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É preciso entender que quando

pisamos no pé de alguém, não cabe a

nós determinar se doeu ou não”

Enquanto fãs, sempre esperamos o melhor daqueles que tanto admiramos, mas em certos momentos podemos ser pegos de surpresa por algum erro que tenham cometido. O erro pode ter diversas proporções, mas a defesa dos fãs é quase a mesma, muitas vezes sem perceber o mal que estão fazendo, principalmente quando outras pessoas são atingidas – seja pelo erro do artista, seja pela própria defesa feita pelo fã.

Antes de continuar, gostaria de dizer que não é preciso citar o que aconteceu porque acredito que todos devem saber o que motivou esse texto. Aliás, não possuo qualquer vontade de apontar o erro – até porque isso já foi feito, mas sim explicar o que uma defesa desenfreada pode causar, ainda mais por estarmos em meio ao movimento #VidasNegrasImportam e o mês do orgulho LGBTI+.

“É essencial estarmos sempre atentos aos nossos discursos, ao que aceitamos de nossos círculos sociais, e nos tornarmos capazes de discernir o que é nossa opinião e o que é influência externa, para que nossos posicionamentos não contribuam, ainda que em menor escala, com estruturas que sempre excluíram e invalidaram as experiências de grupos marginalizados”, explica a socióloga Flávia Viana.

Foi fácil perceber na timeline que muitos se machucaram, porém não cabe a ninguém medir a dor outro. É preciso acreditar na dor que a pessoa passou e demonstrar apoio. “É preciso entender que quando pisamos no pé de alguém, não cabe a nós determinar se doeu ou não”, pontua Viana.

“A vida em sociedade demanda muita sensibilidade e sensatez para lidar com diferentes vivências, além de cuidado com o espaço de fala do outro, mas o que eu vi foi uma completa falta de noção dessa compreensão de que as pessoas incomodadas com o post têm suas razões e estão em seu total direito de externar seu desconforto”.

Vivian entende que as defesas partem de uma necessidade de minimizar o acontecimento para que não se tome uma grande proporção. Entretanto, ao agir desta forma, os fãs assumem “uma postura que invalida a dor e demais sentimentos de outros tantos fãs”. Tais atitudes, inclusive, podem contribuir para que o artista, quem querem tanto proteger, não aprenda com o erro e o comportamento pode se repetir.

“Quando nós blindamos alguém de criticismo, tiramos dos ofendidos e incomodados com as ações dessa pessoa a possibilidade de um pedido de desculpas; e tiramos da pessoa que estamos tentando proteger, também, a oportunidade de aprender com seus erros, dando assim o aval para que eles se repitam”.

A necessidade de defesa desenfreada que resulta na invalidez da dor de outras pessoas, geralmente minorias como negros e membros da comunidade LGBTI+, também pode ser considerado um silenciamento destas vozes.

“Embora não seja restrito à internet, em uma sociedade hiperconectada, as mídias sociais têm se tornado veículo de propagação da agenda de silenciamento de minorias sociais. À medida que as pautas que competem ao povo preto, aos povos indígenas e ao movimento LGBTI+ ganham espaço, as formas de silenciamento também se refinam, se adaptam”, pontua Viana.

#VidasNegrasImportam

Neste link, é possível encontrar diversas formas de agregar ao movimento #VidasNegras Importam. Há documentos com textos importantes para entender sobre o racismo (em português e inglês) e o próprio movimento Black Lives Matter, dicas para protestantes, petições, doações e também um modo de contribuir para aqueles que não possuem condição financeira para tal.

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